Meus olhos verdes (parte XII)

Por Rogers Silva

* Os capítulos 36 e 37 do folhetim podem ser lidos AQUI

38 –

Jéssica estava no hospital. Marina não dera detalhes sobre o assunto, mas dissera que a ex-namorada queria vê-lo hoje ainda no hospital. Ainda ofegante, Geisel tentava recompor o corpo, que se metera numa estúpida paralisação, e reordenar a respiração. Arrumou-se rapidamente e se direcionou ao local indicado por Marina. Ainda com os mesmos sentimentos pregressos, ele buscava explicações para o acontecido. Chegando ao estabelecimento soube (Marina estava na porta) que Jéssica havia sido estuprada no dia anterior e, antes, já tentara entrar em contato com ele, mas não conseguira. Atordoado, quis saber mais detalhes, contudo Marina preferiu deixar Jéssica detalhar (já que estava em condições, pelo menos de conversar. “Afinal, felizmente – como dissera a colega de sala de Geisel e amante (namorada?) de Jéssica – não tinha sido tão grave, fisicamente falando”). No corredor da enfermaria o rapaz encontrou os pais de Jéssica. Olhou-os e cumprimentou-os constrangido. Vencendo o constrangimento, perguntou como estava, no momento, Jéssica. O pai falou que estava melhor, mas ainda muito perturbada. A mãe apenas chorou, abraçada ao homem. Este completou que Geisel podia entrar, pois a filha queria vê-lo. Embaraçado diante da situação quis obedecer, de imediato, o decaído pai de Jéssica. Mas preferiu esperar e, talvez com a espera, se preparar – se recompor.

39 –

“Oi... – disse ela, deitada na cama do quarto branco da enfermaria.” “Oi – retornou Geisel constrangido.” A moça chorava brandamente. Não era de extravagâncias. Nem no seu chorar. Chamou-o para perto, não tivesse medo. Não era medo – quis falar. – Era... Não sabia o que exatamente sentia naquele quarto branco, estranho, a ex-namorada deitada naquela cama branca, estranha. Era esquisito estar ali depois de tudo que sofrera, depois de tantas respostas buscadas sozinho, ora no quarto pequeno de sua casa, ora na rua, andando como um zumbi, ou em qualquer outro lugar em que estivesse. Era muito desconfortável estar ali perto dela se até agora o que mais quisera foi que, pelo menos, telefonasse (Mas, eu... – tentaria ela) pedindo perdão por tudo que fizera, pela traição, pela dor que a traição lhe causara. Enquanto ele sofria, Jéssica deve que aproveitava com a amiga (amante?). Isso era o que mais doía: a dor que não demonstrava, a dor que ninguém vira nela, nem colegas em comum, que a viam sempre, nem Andressa, que um dia a vira passeando com Marina no shopping. Mas, no fundo, achava interessante essa alternância de sofrimento – antes ele, agora ela. Porém, Geisel em hora alguma fora consolado por ela (causadora da dor) e, agora, a moça buscava sua ajuda, mandara chamá-lo. “Não percebe que é muito estranho estar aqui perto de você depois de tudo? – ele disse serenamente. É muito estranho... – completou.” A jovem esboçou palavras. Mas ele: “Hoje, quando soube o que tinha acontecido com você, fiquei desesperado. Só melhorei quando soube que não era tão grave assim. Ainda bem... – uma pausa. – Você tá bem?... – outra pausa. Um silêncio forçado. – Como... Quem foi? – perguntou, esperando curiosamente (mas não expressa no semblante) a resposta.” Jéssica começou, agora explicitamente, a chorar. Passava as mãos nos olhos tentando limpá-los. Geisel olhava-a sério, de maneira paciente. Ela não queria falar sobre o assunto. No momento, não. Geisel esperava pela resposta. Apenas queria ouvir a confirmação. E ele   continuava ali, sério, com uma raiva disfarçada. Constrangido.Mas atencioso. Era mesmo tão difícil assim falar sobre o assunto? Pensava em perguntar pelos motivos que a fizeram traí-lo, mas preferiu não dar margem ao assunto e sofrer mais. Após trinta minutos de papo, ele quis sair daquele quarto, ir embora, pois não queria dar vazão para que as intimidades surgissem e penetrassem na já maltratada relação dos dois. “Eu lhe chamei aqui para pedir-lhe perdão – disse Jéssica, estendendo a mão direita.” “Depois conversamos sobre isso – pegando a mão dela. – Você tem coisa mais importante pra se preocupar agora. Um dia, quem sabe... – não completou.” “Espero que um dia você me perdoe... Apesar de...” “Não se preocupe – ele interrompeu, seco.” Geisel soltou sua mão, afastou-se um pouco, virou-se, e se preparava para sair quando: “Eu ainda te amo – disse a moça.” Ele estava de costa. Virou o rosto, ficou olhando-a seriamente e pensou: Não acredito em você. Nunca mais acreditarei em você – só pensou. Não lho disse. – Por mais que seja difícil, nunca mais acreditarei em você e em mais ninguém... – completou o pensamento (mas nada disse), ainda a mirando. Jéssica também o olhava, meio meiga, meio tímida, meio séria, meio tudo. Talvez esperasse algo vindo do rapaz... (a única expressão que poderia vir dele era um sorriso irônico, julgando a situação em que se encontrava. Mas não sorriu. Segurou-se). “Até mais... – disse Geisel, passou pela porta e, de costa, a trouxe, fechando-a.”


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