Parabéns, Uberlândia!



Nasci no Cerrado e daqui não saí até hoje. Nunca morei em outra cidade que não fosse essa, a minha: Uberlândia. Cidades são como pessoas. Algumas você ama de cara. Outras você odeia de cara. Algumas você aprende a gostar com o tempo. Outras é inevitável não odiá-las. Quando você convive muito com uma pessoa tende a enxergar os defeitos delas e se cegar pra suas qualidades. 

Era o que acontecia comigo em relação à minha cidade antes de começar a viajar bastante (isso de uns três anos pra cá). Sempre fui muito crítico com a cidade de Uberlândia. Passei a ser menos quando comecei a conhecer outras. De todas que eu conheci, nenhuma - acredite - chega perto da cidade onde nasci, essa cidade ainda criança (hoje ela completa 125 anos), cosmopolita e provinciana ao mesmo tempo. 

Seu provincianismo de cidade pequena está nos bairros distantes do Centro, em sua gente que ainda conversa, conta causos, sai de casa no final da tarde pra se sentar nas calçadas e ver a vida passar; está na proximidade com a natureza (ainda muita, felizmente); está no pensamento de cidade de interior de Minas que, opostamente, é uma cidade que pulsa vida, que pulsa gente. Uberlândia, diferentemente de outras cidades do mesmo porte, não é uma cidade de carros, uma cidade de prédios, uma cidade de concreto. Uberlândia é uma cidade de gente: de gente que se conhece, que se interage, que se gosta ou não, que conversa um com o outro olhando nos olhos. 

Por outro lado, seu cosmopolitismo está em sua variedade de espaços, eventos, shows, opções de entretenimento e lazer (sim, nessa cidade há infinitas opções, a ponto de ser frustrante não poder aproveitar quase nenhuma delas); está nessa ânsia de crescimento (em três anos essa cidade aumentou 40 mil habitantes!); está em seu orgulho (às vezes tacanho, às vezes patético) de ser "progressista", mesmo que esse progresso nem sempre chegue pra todos, como é de se esperar. 

Uberlândia é uma cidade que engana a si mesma: uma cidade que parece burguesinha mas não é; é uma cidade de muitas manifestações políticas e culturais; é uma cidade com movimentos sociais fortíssimos; é uma cidade pulsante, jamais inativa; é uma cidade que elegeu um prefeito preto, evangélico e comunista, apesar de suas "raízes" progressistas/desenvolvimentistas oriundas do século XIX (o problema é que essas raízes ainda estão lá, no século XIX). Você queira ou não, você concorde ou não, mas eleger um prefeito preto, evangélico e comunista é um ato com alto valor simbólico numa cidade como Uberlândia (ou como tentam desenhá-la).

Eu conheço muito bem essa cidade, embora ela insista em crescer mais do que eu possa acompanhar. E por conhecê-la tão bem, e por ter conhecido outras tão bem, eu amo essa cidade e não é exagero quando ouço que é uma das melhores cidades do Brasil pra se viver. Sim, é exagero, mas é verdade. Nasci aqui, vivi aqui. Vivo aqui. Até quando não sei. Mas amo essa cidade. Parabéns, Uberlândia!

Top 3 do mês