Porão do Manicômio - Parte 1

Queridos e fiéis leitores,


Aqui, neste blogue, republicarei a série Porão do Manicômio (livro de narrativas de minha autoria que será publicado em julho de 2012), postada n'O BULE. Do livro fazem parte, dentre vários outros, os contos:


Dada a cena que esmaga a minha mente já esmagada (se não, não estaria aqui, e assim), decidi, por unanimidade, ou seja, um voto a zero, suicidar-me. Vejo palhaços, e sinceros (o que é pior) mortos, com um sorriso nos rostos, em rostos (para ser mais exato) feios e iguais ao meu – por isso do meu arrependimento e da conseqüente decisão de me matar, porque não vejo, por enquanto, alternativa melhor (se tem, por favor, venha me informar qual, no máximo em vinte minutos).

Quando Josi veio vindo chorando, pela primeira vez entrou chorando no meu apartamento, sempre entrava feliz, sorrindo, quando ela veio vindo me abraçando, pensei: O que será? Eu te amo eu te amo eu te amo, saiba, insistia em dizer. Sei, murmurei. E eu também. Mas..., começou. Não terminou. Por quê?, perguntou. E eu sabendo do que se tratava falei: Você é insubstituível.

Como pode duas pessoas se amarem tanto, ao cúmulo da anulação mútua? Como pode? Desiludida com as respostas foi para a beira do mar, avistou uma gaivota lá longe, ínfimo branco sobreposto à imensidão azul, sorriu, quão belo é o mundo, quão bela é a vida, meu Deus, mas quão angustiante – e se jogou. As ondas a levaram, para onde, se perguntava a filha, a garota que perdeu a mãe, para onde, se perguntava o marido, o surdo e seus olhos de gato.

A falta que você me faz é semelhante ao mal que você me faz. A falta – a que fui obrigado a render – dói. A falta, a ausência doem, meu Cego-luz (prefiro assim). Com você, a falta do sublime, do transcendental. Sem você, a falta de você. Tudo é ausência. Como me acostumar a um mundo onde tudo é ausência? Com você (porque você insiste em não querer transgredir), a mesmice enfim. Seu amor é pouco: não se entrega. Às vezes preferiria que fosse uma paixão ardente, passageira, mas sublime, feita de instantes intensos e inesquecíveis.

Eu sentia a respiração da Clarissa, távamo muito perto, o pradão era pequeno e apertado e tava até meio escuro lá dentro. Eu ia falá alguma coisa mas ela disse shhhiii e colocou o dedo na minha boca. Távamo pertinho um do outro e ela foi assim chegano, chegano e pegou na minha mão. Eu tremi e senti uma coisa estranha. Credo. Aí então ela me deu um beijo na boca assim tão rápido e aí o Felipinho apareceu e gritou Clarissa e Hugo! Peguei! A Clarissa correu bem depressa mas eu fiquei paradinho dentro do pradão sentino aquele gosto estranho além do friozinho. À noite, na cama, eu pensava que Clarissa era minha namorada e beijava o travesseiro e sentia uma coisa boa mas estranha. E chorava. Mas não chorava assim de dor ruim. Era bom.

Cometas e eclipses foram feitos para nós, nós dois, e se cometas não caiem na Terra é porque sabem que aqui estamos nos amando, sempre nos amando, e se alguma vez a lua se sobrepor ao sol, minha luz, o espetáculo é nosso, sim, é para nos vangloriarmos, porque tudo foi feito para nós, basta querer, basta querer que o mar caiba aqui nessa minha mão fechada e ele caberá, e juro que nenhuma gota cairá, não deixarei nenhuma gota cair para poder te presentear o mar, o mar inteiro, todo o mar que existir só para você, somente para você, vem, pegue, aqui está o mar na minha mão fechada, vem logo meu amor, vem logo que ele pode secar.


E em breve, algumas curiosidades (as homenagens, as inspirações, os personagens históricos e os retomados de outra obra, os manuscritos dos contos, as músicas da trama) sobre essa casa de loucos!


Abraços, beijos do
Rogers.

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