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 Solidão e companhia, de Silvana Paternostro

Eu adoro memórias, autobiografias, biografias e congêneres. Nesse livro, porém, ficamos sabendo de aspectos importantes da vida do escritor Gabriel García Márquez, dos seus pais até seus últimos dias, por meio de depoimentos de dezenas, centenas de pessoas. Ou seja, o leitor precisa ter consciência de que nem tudo ali pode ser verdade. No entanto, à medida que embarcamos na leitura, parece, sim, que tudo é verdade (mas pode não ser): as dificuldades pelas quais o escritor passa; a tolerância de sua esposa em cuidar da casa, da família para que ele pudesse se dedicar, durante um ano e meio, em seu Cem anos de solidão; a personalidade despretensiosa de Gabo entre os amigos e conhecidos; sua obsessão em ser um grande escritor e escrever uma obra-prima (aliás, esse aspecto é quase uma unanimidade entre os depoentes); a idolatria de desconhecidos, conhecidos de anos e pessoas importantes, como políticos, atores, cineastas, ao escritor.

A autora, Silvana Paternostro, uma jornalista renomada (colombiana de Barranquilla com passagens em revistas e jornais como The New York Times, The Washington Post, Vogue e Paris Review), explica no prólogo a razão do livro e sua metodologia ("conversar com aqueles que o conheceram antes de se tornar o lendário escritor latino-americano" (...) inclusive "com os personagens que aparecem em Cem anos de solidão"). Após gravar 24 fitas, com noventa minutos em cada lado, e ouvi-las, a autora percebeu que não havia material suficiente para transformar em livro. Decidiu, então, dar início a "uma segunda rodada de entrevistas com aqueles que poderiam fornecer contexto e cronologia às primeiras vozes".

Dividido em duas partes (antes e depois de Cem anos de solidão), o livro nos dá um panorama bastante interessante sobre o autor, mesmo para aqueles leitores que já leram sua autobiografia (Viver para contar). Solidão e companhia é uma espécie de biografia oral, não sistematizada como uma biografia comum, escrita por um biógrafo especialista em seu ramo, sobre um dos principais autores latino-americanos e mundiais das últimas décadas. Faltam, talvez, notas de rodapé de página sobre os depoentes, muitos dos quais figuras importantes em seus ramos: fotografia, edição, literatura, cinema, etc. (essas notas aparecem apenas no final do livro e somente sobre alguns - os mais importantes - depoentes). Feita a ressalva, vale a leitura de cada página, sobretudo para aqueles leitores - como eu - que adoram se inteirar de fofocas sobre a vida de pessoas que, cá entre nós, tiveram uma vida real.