Patrulha na literatura?



A onda do politicamente correto está chegando a níveis perigosíssimos. Ainda agora uma leitora do meu livro me sugeriu repensar os meus personagens, porque se sentiu incomodada por conta das atitudes "machistas" e "safadas" de alguns deles. Ela quer que eu construa personagem que caiba dentro do seu moralismo barato; que não a incomode em suas opiniões, em seus discursos, em suas crenças? Ela quer uma literatura que faça média consigo mesma. Cara leitora - respondo aqui - eu faço arte, eu faço literatura. A arte é livre (ou deveria ser). Não é púlpito de igreja, que as pessoas usam para pregar moral e/ou bons costumes. Eu tento construir personagens verossímeis, convicentes, e não ventríloquos ou estereótipos. Personagens são quase iguais às pessoas: elas existem, e existem em sua diversidade de caráter e natureza, de opiniões e sentimentos; personagens - pasme! - também são incoerentes e imperfeitos, como nós mesmos. Escrevo a partir da minha vivência, claro, mas sobretudo a partir da minha observação/visão da realidade. A literatura, mais do que representação, é a transfiguração da realidade, o que quer dizer que ela deve transcender essa realidade (o que implica que ela deve transcender e, às vezes, até combater determinados discursos, por mais que isso incomode algumas almas sensíveis). Repito: eu não sou político, eu não sou padre, eu não sou pastor. Eu sou escritor e não tenho compromisso nenhum, como construtor de personalidades, com convenções sociais e morais ou discursos bonitinhos. E acho, sinceramente, que não preciso repensar sobre o assunto. Obrigado.

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