As agruras e venturas de um editor (de livros) independente #1

  

Sobre a importância (ou não) do título, do formato ideal e dos elementos pré-textuais 

 

Por Sinvaldo Júnior 


A edição de um livro começa antes da edição propriamente dita. Explico: antes de tratarmos do título, da capa, do capista, do desenho da capa, da revisão textual, da diagramação, do projeto gráfico, etc., sugiro ao autor reler criticamente seu texto e, se for o caso, fazer as últimas revisões e reformulações. Dado que possivelmente o revisou diversas vezes no decorrer da sua escrita e elaboração, o autor precisa realizar essa primeira revisão (chamemos assim) o mais rápido possível. Se ele tiver condições, indico a contratação de uma leitura crítica profissional, mas não é um serviço indispensável para a publicação de um livro, como o são outros. 

Feito isso, aí sim partimos para outras questões tão básicas quanto elementares que surgem quando o editor coloca a mão e os olhos atenciosos no original: o título escolhido pelo autor é realmente bom? Define a obra? É atrativo? Qual o formato mais ideal para a obra em questão: 110 x 180 mm; 140 x 210 mm; 160 x 230 mm? O que deve sobressair na primeira capa: a ilustração, o título do livro ou o nome do(a) autor(a)? Quais elementos inserir na capa (1ª capa, orelhas, 4ª capa, lombada)? Para alguns podem parecer muitas, mas são essas questões que decidi primeiro tratar com a autora (Iasmim Assunção) do livro do qual sou, atualmente, editor.

Para não sobrecarregá-la com conhecimentos que na verdade sou eu (o editor) que preciso dominar, sugeri-lhe o seguinte: 

  1. Escolha, dentre os que possui em casa, cinco livros dos quais gosta bastante e queira como modelos quanto a elementos como capa, projeto gráfico, formato, fontes e tamanhos, espaçamentos, diagramação, margens, etc. Ou seja, o que mais chama sua atenção nesses livros, e por quê? 

Tendo os livros-modelos em mãos, eu – como editor – já tenho algumas referências com as quais posso trabalhar, de maneira a agradar o autor, mas também para usá-las como referências de um público-alvo, uma vez que minha autora – com seus dezessete anos e suas preferências de leitura – faz parte de um público consumidor específico, conhecido como jovem adulto. E acredite: conhecer o possível público-leitor da obra faz toda diferença na resposta às questões anteriores e a estas outras: capa dura, brochura, sobrecapa? Orelhas curtas, longas? Marcador de textos avulso ou fita presa? 

Começamos pelo título, e a autora e eu decidimos que o título escolhido por ela, além de não ser claro e atrativo, não apresentava tão bem a história. Mudamos o título. Depois passamos para a escolha do formato: como se tratava de um romance entre 200 e 250 páginas, decidimos por um formato padrão para esse tamanho: 140 x 210 mm. O formato e o número de páginas, sabemos, influenciam bastante o custo final, e é vital refletir sobre a questão nesse primeiro momento, no qual também optamos por 500, e não 1000 exemplares, como é de praxe em uma edição custeada com dinheiro de lei de incentivo à cultura (o nosso caso). 

Pode parecer óbvio, mas para alguns não é: por ela ser uma autora iniciante e desconhecida, consideramos mais plausível sobressaírem elementos como ilustração e título da obra na parte frontal do livro (1ª capa); não faz muito sentido destacar o nome do(a) autor(a). Descartamos a capa dura, tanto pelo custo e por não ser uma preocupação do público-leitor da autora em questão. Quanto à capa geral, decidimos por um texto crítico de outra pessoa (outro jovem escritor ou influenciador) na primeira orelha; foto e biografia da autora na segunda orelha; sinopse impactante na quarta capa (além de código de barras e logomarca dos patrocinadores e apoios, se houver). Abrimos à possibilidade de criar uma sobrecapa (capa removível) mais elaborada, com todos os elementos e informações escolhidos, e uma capa simples. 

Aqui, surgiram outras questões:

  1. Quais autores ou influenciadores poderiam ler e escrever sobre uma escritora jovem e desconhecida? A partir daí, dei-lhe outra função: entre os autores/influenciadores de que gosta, listar cinco (razoavelmente acessíveis) para que pudéssemos entrar em contato e propor a escrita do texto. Por que não tentar?
  2. Que tipo de foto colocar na orelha? Para resolver essa questão, sugeri a ela criar – dentro das suas condições de acesso a equipamento, mas se possível com ótima qualidade – uma série de fotos para propósitos profissionais: de rosto, de perfil, de corpo inteiro; com maquiagem, sem maquiagem; em diversos espaços, etc. Entre essas fotos escolheríamos aquelas que usaríamos tanto na orelha do livro quanto em perfis de redes sociais, posts/sites/blogs, para divulgação em outros sítios, etc. 

Os primeiros passos estavam sendo dados, mas faltavam outros... Era agora ou nunca: a autora e eu, seu editor, discutimos sobre a vontade/necessidade de haver, em seu livro, dedicatória, agradecimentos, epígrafe e prefácio, tendo em vista que, além de aumentar o custo de produção, esses elementos não são obrigatórios. Optamos por uns (dedicatória e agradecimentos); por outros não (epígrafe e prefácio). Partimos, então, para um item que – descobrimos intuitivamente e com pesquisas – é muito importante para o público-leitor que estávamos querendo alcançar: a capa. Mas isso é conversa para outro texto...


Sinvaldo Júnior é professor de ensino médio, pesquisador acadêmico e revisor de textos (Textifique Soluções em Textos). Publicou diversas resenhas, artigos de opinião e artigos acadêmicos sobre leitura e literatura, com foco em obras e autores brasileiros. É admirador de Carlos Drummond de Andrade, Campos de Carvalho e José Saramago. Mora em Uberlândia-MG. É também personagem de Rogers Silva.

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