A história de "Estátuas sobre túmulos" - parte 1
Como tudo começou
Tudo começou há muito tempo, nas minhas primeiras leituras de literatura, quando eu tinha 18 anos. Mas… como assim? O ano era 2001 e eu estava me preparando para o vestibular da UFU, que apresentava uma lista de obras literárias de leitura obrigatória. Uma delas era A sibila, da autora portuguesa Augustina Bessa-Luís. Marinheiro de primeira viagem, empolgado com aquele mundo novo (o da literatura), eu tinha o hábito de escrever trechos de que gostava das obras que eu lia, como os seguintes:
“O tempo árduo da sua vida fora o da infância, aquele em que a ignorância da sua própria importância e valores lhe permitiu ser original, puríssima intérprete da vida."
"A sinceridade é uma impotência de espírito e a mais deselegante das virtudes."
"No fundo, o seu misticismo era humanista; era ainda uma revolta, a rebelião audaciosa e admirável da sua ignorância."
"A vocação para ultrapassar o humano está em todos nós, assim como a tentação para o medíocre."
"Mais ou menos, todos nós somos burgueses que tentam superar-se."
"…os mortos só dos vivos se alimentam, e dependem apenas das suas recordações."
"Tudo o que não obedece a um plano, dura apenas o tempo da realização; e não tem glória, nem esse cunho das coisas humanas que trazem consigo um alento de superação e de eternidade."
"São os espíritos superficiais que mais acreditam nos êxitos retumbantes, nas fórmulas fáceis para vencer, pois isso lhes lisonjeia a incapacidade e a fraqueza de vontade."
"...o equilíbrio de nervos e de razão é tudo quanto há de menos vulgar nas criaturas humanas."
"O sofrimento está sempre aliado a uma emoção violenta – uma surpresa, o destruir dum hábito que nos prometia estabilidade."
"Eram como estátuas sobre um túmulo, incomunicáveis símbolos duma vida extinta."
Trechos de A sibila - Agustina Bessa-Luís
Após anotados ou grifados (não me lembro qual era o método utilizado), escrevia todos os trechos em um documento que intitulei (e ainda hoje o tenho em meu computador) de “Prováveis epígrafes”. A título de curiosidade, junto com Agustina Bessa-Luís, frutos das leituras da época (estamos falando de 2001, 2002, 2003…), outros trechos compõem o documento, de autores como: Wilhelm Reich, Miguel Torga, Milan Kundera, Lygia Fagundes Telles, Aristóteles, Tom Peters, Colin Higgins, José Saramago, Goethe (Os sofrimentos do jovem Werther é a obra da qual retirei mais prováveis epígrafes para minhas histórias…), Ignácio de Loyola Brandão, Fernando Pessoa, Thomas Mann, Gabriel García Márques, Nikos Kazantizakis, Ricardo Piglia, Luis Fernando Verissimo, etc.
Continua...